sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Isso é o progresso!"

 Uma coisa que tem me feito refletir hoje é imaginar a utilização da frase "isso é o progresso!" em diferentes tempos da humanidade.
 Imagino um primata lá na Pré-História descobrindo o fogo em contato com a pedra e "balbuciando" para seu colega: isso é o progresso!
 Imagino no ano 10.000 A.C. a descoberta da agricultura e a fixação do homem em um lugar, os patriarcas dizendo: isso é o progresso!
 A fundição do bronze, invenção da roda, domesticação dos animais, uso da lã... “Isso é o progresso!”.
 Então de repente chegamos a Idade Antiga e vemos o Código de Hamurabi, a escrita, consolidação das cidades, religião monoteísta, os grandes Faraós, o início da expansão comercial e naval dos Fenícios, as cidades-estados da Grécia e seus filósofos, nascimento de Roma, a fundação da biblioteca de Alexandria e Alexandre, O Grande, dizendo: isso é o progresso!
 A Era Cristã, que precede a Idade Média, com o nascimento de Jesus Cristo, auge e declínio do Império Romano, Constantinopla como capital mais influente no mundo eurocêntrico, período clássico e riquíssimo da civilização Maia, os avanços dos Hunos na Pérsia e na Índia... Para cada qual: isso é o progresso!
 Então a Idade Média com a reunificação da China e a primeira impressão de um livro, o budismo no Japão, fundação de Bagdá, árabes conquistam as Alexandrias, apogeu dos Maias, completo fim do Império Romano, expansão Inca, cruzados em Jerusalém, a Igreja Católica e seu Estado, as conquistas de Gengis Khan e seu genocídio, Joana D’arc, Henrique V, as grandes navegações chinesas: isso é o progresso!
 Os modernos com a reforma protestante, Vasco da Gama contornando a África, a renascença com seus artistas e cientistas, Colombo no norte das Américas, Cabral no Brasil, Otomanos conquistando Síria, Egito e Arábia, Camões, Companhia de Jesus, fundação de Quebec, do Afeganistão, independência dos EUA, Revolução Gloriosa, Revolução Industrial, motor a vapor, genocídio dos povos indígenas, comercio da mão escrava africana: isso é o progresso!
Para nós, contemporâneos, progresso é: Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte, Karl Marx e o Manifesto Comunista, Inconfidência Mineira, Doutrina Monroe, Big Stick, Charles Darwin, fim do tráfico negreiro, Guerra Hispano-Americana, Guerras do Ópio, invenção da fotografia, Guevara e Fidel Castro, teoria da relatividade, programa espacial soviético, avião, bomba atômica, ONU, FMI, AIDS, farmácia, Apartheid, Al-Qaida, crise econômica, petróleo, Zapata, Pinochet... “Isso é o progresso!”?
 Citei aqui momentos históricos totalmente embasados na teoria positivista que para mim, é anacrônica e marginalizadora. Mas a intenção não é discutir o ponto de vista de um mesmo ponto, mas apenas refletir sobre uma parte do “progresso” que veio a se desenvolver nessa cronologia eurocêntrica.
 Deixo aqui para cada leitor que reflitam essas palavras com a ajuda do mineiro que tanto admiro, Samuel Rosa, em sua música “Notícia”:

O tempo veio hoje me encontrar
Parando na minha janela
O tempo só chegou pra me dizer
Tudo que não pude perceber

Depois de mudar tanto o que toquei
O tempo vem trazendo algumas marcas
Na rua e no meu coração
Parece que alguém perde a razão

O tempo passa e nunca me avisou
E agora pude perceber
Aqui tão longe, ali bem mais perto de você
Ferve demais nesse verão

O tempo choveu fora da estação
Por isso me chamou pra uma conversa
Na rua e no meu coração
Parece que alguém perdeu a certeza

O tempo veio hoje me encontrar
Ainda quer me dar uma chance
O tempo só chegou pra me dizer
Tudo que não pude perceber

A onda imensa bate e leva a casa que vivi
O vento é forte e fortes não são as cidades que ergui
Algum mal fiz pra tanta resposta má
Do sol, montanha, vento e mar

Existe um céu de mísseis e de escudos contra mim
Um céu de estrelas de cometas me chama
Eu vou pedir, pedir que eu possa prosseguir
Entre o sol, montanha, vento e mar

A luz batendo no meu rosto é o sol mais quente que senti
Queimando planta, gente e tudo que nasce por aqui
Algum mal fiz pra tanta resposta má
Do sol, montanha, vento e mar

O tempo veio hoje me encontrar
Vem me falar de uma chance...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aos politicamente engajados.


Quem canta ou assobia na escuridão nega sua ansiedade, mas não passa a ver mais claro. Há dez anos, caímos na estagnação. Vivemos hoje, à beira da depressão e da hiper-inflação. E constatamos, a toda hora, com espanto a vergonha, a enorme distância que nos separa da civilização. É natural que o medo e a desesperança tenha tomado o lugar do nosso habitual otimismo. Mas podemos continuar cantando ou assobiando, e acreditar em homens providenciais, ou em receitas salvadoras aviadas por economistas geniais. Ou encontrar culpados. Isto é fácil e cômodo. Difícil é enxergar mais claro. Há interesses, partidarismos, preconceitos ideológicos, que criam ilusões e ocultam realidades desagradáveis. O debate público não tem ajudado. Mas o mínimo que se exige dos intelectuais é que exponham suas opiniões claramente, sem a pretensão de ditar a verdade, mas também sem medo de desagradas a quem quer que seja.

João Manuel Cardoso de Melo, 1992.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

The dog days are over?


Essa questão é de difícil visão no campo político. Liberdade? Igualdade? Fraternidade? Onde? Ou melhor... Para quem? Ha que preço?

Preço... Tá aí um medidor de liberdade eficiente desse modo de produção vigente na grande parte do planeta: Capitalismo.

Acho interessantíssimo a inversão de valores presentes na sociedade! Como em uma propaganda da: Ford Fusion, the city is in your hands. Ah então agora é isso, essencial mesmo e ter um carro que me faça sentir tão poderosa ao ponto de ter "a cidade em minhas mãos"?

Venho observando também algumas pessoas que dizem realizar-se após a compra de um jato, por exemplo. Mas em nenhum momento se imagina no jato sem uma esposa, um filho, uma família ou sem qualquer companhia que possa pelo menos se gabar.

Mas interessante mesmo foi um desses emails aleatórios que a gente sempre recebe, que dessa vez me surpreendeu quando observei valores sociais, culturais versus valores humanos. O depoimento de um médico da UTI que observou que todas as vezes que um paciente esta para morrer ele nunca fala "deveria ter investido meu dinheiro na empresa tal..." pelo contrário, ele sempre lamenta "deveria ter dado mais amor, deveria ter sido um pai melhor, deveria ter vivido de modo mais ameno, deveria ter revido meus conceitos, priorizado outras coisas..."

Segundo o Liberalismo, Neoliberalismo e afins, todo ser humano é livre. É livre para iniciar a atividade empreendedora que desejar, trabalhar onde quiser... E tem vários direitos garantidos pelo Estado, como educação, saúde, lazer e etc etc etc. E aquele que não se da bem na vida é porque simplesmente não quis, ou é preguiçoso, não é capaz, não deu valor a suas oportunidades, entre outros.

Mas espera aí. Realmente todo sujeito que mora debaixo da ponte está lá por que quer? Ele preferiu não ir a escola? Ele preferiu ser pobre? Ele por livre e espontânea vontade escolheu comer comida do lixo que arrumar um emprego digno?

Mas pera aí. Estado garantindo direitos aos cidadãos enrolando as políticas de reforma agrária e, ao mesmo tempo, aprovando leis de diminuição de áreas florestais em conservação para ampliar pasto de criação de gado de corte dos grandes empresários??? Haja fôlego pra suportar isso.

Fica difícil prestar atenção nos valores que priorizamos, uma vez que nem todos trabalham em UTI. Mais difícil ainda é lidar com a mídia, essa tem o dom de limitar a liberdade, garantir valores individualistas, materialistas e hobbesianos pra nossa cega e prostituida sociedade.

Entre os jovens é muito popular o seriado, estadunidense, Gossip Girl. Referência em moda, lifestyle e até mesmo um "guia espiritual", onde esses jovens se espelham para resolver próprios problemas. Com direito a mais de 10 milhões de "curti" em sua página oficial do facebook.

Trata-se de um "guia espiritual" as avessas é claro. Com a maioria dos jovens admitindo acreditar em um poder superior (Deus, Alá, Oxalá, etc) fica no mínimo curioso a contradição dos conselhos "divinos" versus "midiáticos". Citarei aqui algumas das célebres frases desse seriado e em seguida questionarei.

"Coração vazio é bem melhor que coração partido", depois as pessoas se lamentam que "família", segundo a mídia, é uma instituição "falida". Escolhe amar de tal forma como Bella e Edward da saga Crepúsculo se amam, ao ponto de se limitarem ha um não viver um sem o outro; na primeira (das milhões) frustração se fecha de tal forma a banalizar e desdenhar do amor de uma forma inversamente proporcional de um filósofo tão respeitado pelo mundo cristão inteiro: Jesus Cristo.

"Aprendi que se não podemos arrancar uma página da vida, podemos jogar o livro inteiro no fogo", e daí podemos tirar um dos inúmeros fatores que fazem com que nossa memória tenha "prazo de validade". Logo, ninguém sabe que político votou na ultima eleição, quem se envolveu em qual escândalo e no fim: todo político é corrupto, se eu estivesse lá seria também, é inevitável.

"É de natureza humana ser livre. E não importa por quanto tempo você tenta ser bom, você não consegue esconder uma menina má." Em seguida vemos, por exemplo, briga entre amigas que ambas afirmam que a outra "passou da moralidade que reveste uma amizade, logo não serve mais pra me relacionar". Mas é claro, admitindo essa natureza mesquinha como inerente e inevitável fica difícil mesmo exalar conspiração e se deparar com honestidade.

Essa é a minha preferida: "não deixe que alguém lhes diga que vocês devem ser feliz com o que tem. Sempre ha mais, e não existe motivo para que vocês não tenham tudo". É necessário mesmo tecer comentários? Acho que ficou bem claro que tipo de "valor" aqui sugerido. Seja no lado material ou "sentimental", esse impulso de "você pode e você consegue porque você é capaz" não me soa nada saudável.

Poderia aqui discorrer citações finitas, mas considerarei o suficiente. Sem mais delongas, questiono-lhes: que valores são esse sociedade? Que liberdade é essa? Que ideologia a mídia, o mercado, os cursos técnicos, a grande procura por diplomas em engenharia, os telejornais, os seriados, as músicas e outras infinitas maneias de expressão lhes sugerem? Prestem atenção!!!

Escolher usar saia jeans numa fase em que todos usam saia de cintura alta não deveria ser uma vergonha, deveria ser apenas uma simples questão de escolha. Escolher ser biotecnólogo não deveria ter nada a ver em sacrificar o mercado nacional a favor das multinacionais, das organizações mundiais como a OMC, FMI, ONU... Mas tem! E não fatalizo aqui tudo em "teoria da conspiração", aliás, de teoria isso não tem nada, muito pelo contrários, ha tempos tem sido religiosamente praticado!

Questionem, analise, metamorfose-se mas antes de tudo, faça, pratique e problematize também a L I B E R D A D E e os valores que vem com ela.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cadê o cigarro na mídia?


Ha tempos venho me indagando sobre isso. Primeiro, a proibição da propaganda televisiva do cigarro, depois a disseminação dos malefícios causados bem no rótulo do próprio produto, logo leis que limitam até mesmo áreas de fumantes e não fumantes; e hoje ao acompanhar as séries de jornais que passam pela manhã na rede globo mais uma: a Europa inteira permitirá a comercialização de apenas uma tipo de cigarro, o que apaga sozinho, e é claro que essa determinação foi por motivos ambientais.

A discriminação da comercialização desse produto, altamente presente entre as pessoas mesmo com tantas "repressões sociais" dado ao fato de ser associado ao "glamour hollywoodiano", vem perturbando minha paz.

Enfim, apresento uma simples teoria, sem qualquer espécie de pesquisa sistemática mas apenas com observações e minha doce tendenciosidade por política.

Minha pergunta inicial sempre foi "o que será que os empresários desse ramo aprontaram contra o Governo para que haja tanto boicote de incentivo comercial, nesse Governo regido pelo neoliberalismo e sua belíssima ideologia de livre iniciativa?". E foi assim que lembrei de uma temática um tanto polêmica, a emissão de CO2.

A partir dessa perspectiva fiz uma breve pesquisa na internet sobre a emissão de CO2 proveniente do cigarro, e pude ter acesso a inúmeros textos, quase que essencialmente de ambientalistas e "doentes", desenvolvendo críticas a respeito.

Pois visto problemas ambientais, saúde e agregando a políticas públicas de "empecilhos para consumo" não pude tirar conclusão diferente: sinto que nossos governantes, tanto em âmbito nacional quanto internacional, estão tentando aí diminuir com a emissão de CO2 sem afetar aos produtos (mais investidos pelas classes dominantes mundiais) que mais atingem o meio ambiente como os grandes criadores de carne bovina, as áreas improdutivas incapazes de se restabelecerem pelas mãos dos empresários ou dos políticos e ao mesmo tempo não servindo nem para a reforma-agrária, o investimento em áreas verdes, preservação das poucas áreas florestais intocáveis e etc.

Sinto ver em breve propagandas da diminuição de emissão do CO2, com dados estatísticos falseados e infundamentáveis. Propagandas se gabando dos benefícios trazidos pelo governo em regência, propagandas que, como diria nossa sábia cultura popular, "tampam o sol com a peneira".

Como já disse, isso não é uma pesquisa é apenas um ponto de vista. Aos mais cientes do que venho a propor, por favor, sintam-se no dever de acrescentar algo a essa visão de uma leiga.

sábado, 12 de novembro de 2011

À burguesa do século XXI

Ei querida!

Cada dia que passa ta mais bonita em? Vaidosa, cuidadosa, e com personalidade forte! Ha um tempo atrás seria inspiração de muitos poetas, românticos, apaixonados, sonhadores... Que falta faz uma sociedade com homens de verdade né?

Pois é, mas hoje sua bela roupagem ta servindo pra moleque se inspirar no banheiro rs, fica difícil cobrar romantismo dos meninos.

Sua "personalidade forte" se limita ha um recalque tão nítido, onde valoriza a "indisponibilidade". Aprendeu pela dor (e com as frases do Caio Fernandes de Abreu) a ser "forte", fria, a desconfiar dos amigos e a humilhar os inimigos de salto agulha; tendo a Blair Wardolf inspiração ideológica (e monetária rs)... Tão superficial darling!

E a boca o que tem feito com ela? Formado palavras, expondo opiniões ou... Rs, continua servindo pra introduzir a genitália masculina?

É querida, já pensou no que vai ser quando crescer? Ou ta curtindo o "carpe diem"? Tanta coisa pra preocupar né? Qual vestido usar na próxima festa, superar o look daquela biiiiiitch que se destacou mais que você na ultima coluna social, comprar a nova coleção de sapatos DG, pintar seu cabelo de loiro como o da Britney... Ah claro, tentar superar aquela traição do filho do dono da empresa "Kick my Ass". Tá doendo até hoje né...

Mesmo com tantas dificuldades não pode deixar de se informar, além do mais é uma mulher de conteúdo! Lê a revista "Caras" assiduamente, "Veja" esporadicamente, "Kama Sutra" de cada dia! Coisas úteis pro seu dia-a-dia rs.

No que tem trabalhado? Ah claro, bumbum né? Não da pra deixar flácido não rs. Tem muita piranha na concorrência querendo dá de graça pro mesmo cara que você daria! Coitada das prostitutas, perdendo espaço no mercado pra essas vadias fúteis!


Mas você tem uma vantagem né? Topa sensualizar junto com outra amiga para a alegria do filho do dono daquela loja de roupas de marcas que você a-do-ra! Vale tudo por uma calça da Coca-Cola! E por um "gostosa" na sua foto do facebook.

E também, o uso de entorpecentes tem te ajudado nessa sua árdua rotina para se encaixar em algum lugar desse mundo. É a única coisa que você deseja certo? Ser AMADA por um cara rico, ser reconhecida pela sua COMPETÊNCIA que vai além da sexual, viver um perfeito AMERICAN DREAM com uma família estável. Sem mentira, sem dor, só com muito amor, saúde e dinheiro!

Tá difícil lidar com seus anseios humanos agregados aos anseios sociais né? Num da pra ser amada por um cara pobre, nem pra conquistar e tão desejada competência só com o próprio intelecto, precisa de do suor né? E de alguns gemidos bem ensaiados!

Compartilho com você minha querida amiga, a dificuldade de se auto-conhecer. Num é fácil ser livre dentro de um padrão como esse. Sua vida ta passando e você não está conseguindo se encaixar como queria, ou você se encaixou mas não conseguiu ainda ser feliz.

Mas nada que um silicone e uma lipoaspiração não prolongue sua felicidade. Esse mundo moderno tem tecnologias tão úteis não é mesmo? Mas discutiremos isso numa próxima ida ao cabeleireiro... Vejo você no próximo evento, usa esse vestido viu?! Ficou ma-ra-vi-lhoooo-so em você! E não mostrou aquela sua gordurinha, rs, amiga!

sábado, 5 de novembro de 2011

Praticando a auto-crítica.

Acreditando que a maioria das pessoas tem desejos, e principalmente os mais jovens constroem seu presente baseados em expectativas futurísticas essencialmente subjetivas, sugiro aqui a auto-crítica.

Desconsiderando a princípio valores morais, éticos ou qualquer outra palavra que carrega seus sonhos de significados pejorativos ou não, procuremos analisar nossos objetivos de uma forma a problematizá-los para buscar sentido.

Citando um “burgês”, o qual preza seus valores em ideologias neoliberais, se valendo pelo quanto ganha e pelo tempo em que mantém seu ganho. Jovem, estudando para manter o patrimônio do “papai” ou da “mamãe”, pré-vê sua realização pessoal após adquirir um jato, o qual se movimentará para passar férias em sua casa na Europa, ou a trabalho que constantemente terá de fazer em vários países do mundo e etc.

Agora um ponto de vista de um intelectual, que tem cede insaciável pelo conhecimento, anseia pelo dia que conquistará lugar de destaque entre os grandes pensadores de seja lá qual for o ramo, busca qualificações para dar a sociedade respostas inquestionáveis ha cada pergunta formulada. Independente do contexto que for inserido deseja sempre ser o portador da verdade, fornecedor do saber, que é oriundo de um sistemático, cauteloso e autêntico estudo promovido pelo mesmo e aplaudido por todos.

Compartilhamos uma visão marginal, de um indivíduo que indefere de anseios materialistas ou intelectuais, busca por uma vida digna, onde não dorme preocupado com o que terá para comer amanhã ou como sustentar sua família uma vez que o pai ou a mãe tem dificuldade de “lidar” com o dinheiro (e/ou adquiri-lo) e distribuí-lo entre as próprias necessidades básicas justamente com as dele mesmo e de seus irmãos mais novos, incapazes do trabalho; ele está sempre a procura do que comer, de como driblar a fome, de se preocupar com o que faz-se imprescindível para a sobrevivência humana.

Enfim, dado três pontos de vistas extremistas, introduzo aqui essa tal de “auto-crítica”. A busca constante de um foco longínquo do “hoje”, do “presente”, do que se tem em mãos... Afinal, de que vale? Realização pessoal? Felicidade, equilíbrio, dignidade, sabedoria... É isso que vale deixar passar todo seu presente em função de um futuro? Independente da posição social, do valor aquisitivo envolvido, da moralidade, da utilidade; demasiado foco será mesmo que vale a pena? E quando à aqueles que buscam o básico, esse “básico” se limita a apenas necessidades biológicas? Para quê tanto foco naquilo que se pode tocar, te pode ter, se pode mostrar?

A soberba, seja em qual for a perspectiva “física” que aqui situamos, ou seja: monetária, didática e/ou alimentícia, deve sempre ser questionada. A final, nenhum milionário se diz completamente realizado dentro do seu jato sem uma esposa ao lado, sem um filho, sem um abraço, sem um carinho. O mesmo acontece com esse intelectual “dono da verdade”, de que vale tanta informação sendo que todo ser humano tem o humilde desejo de receber amor, atenção, consideração, entre outros. De que adianta ter sempre mesa farta, porém não se sacia de sentido, de motivo, onde rege a paciência, o diálogo, os sorrisos e que sempre nos remete a mesma necessidade: ser amado. E pouca gente é amada quando o mesmo não ama, há não ser (acredito eu) que seja por Deus.

A fé tem muitas utilidades, pode até alienar, estreitar a visão de um indivíduo a respeito de um fato; mas indubitavelmente a fé num poder transcendental, seja Deus, seja Alá, seja alcançar o nirvana e afins, completa o homem, dá sentido as buscas pessoais equilibrando-as a mais simplória necessidade física, mental, espiritual: o amor.

Espero ter levado-os aqui a problematizar seus anseios intrínsecos embasados no amor, ou seja: amar o que faz, fazer com amor e compartilhar o amor. Mas indico não limitar suas perguntas a apenas essas perspectiva, a final, há um turbilhão de sentimentos que nos invade cada dia de nossa vida, e na mesma proporção vem perguntas possíveis de serem respondidas, bastam observar que elas existem e que são tão presentes quanto seus sonhos, ou até mais.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por que não fazer História.

Aproprio-me de um clássico pensamento do Friedrich Nietzsche: até que ponto você aguenta ouvir a verdade?
Eu, graduanda em história e apaixonada pela mesma, julgo-me com ligeira autoridade para lhe dizer o porquê “correr” dessa ciência.

Considere-a como um amigo, o qual tem infinitas afinidades e compartilha momentos memoráveis de sua vida. Aproveite essa consideração para enxergar a saída de emergência. Uma vez sendo "paixão desenvolvida" e não necessariamente "implicada" (como seu amor por pai, mãe, irmãos, etc.) acredito que seja mais fácil quebrar seu laço afetivo.

No decorrer do curso, rico em teorias, perspectivas e expectativas; você poderá escolher enxergar com certa minuciosidade as inúmeras lutas de cunho popular. Cada determinada fase da humanidade, haverá uma determinada classe subjugada como também haverá aqueles que lutaram pela dignidade que lhe foram tiradas (em troca de alguns valores materiais ou à um conjunto de idéias). Inspirador! As vezes.

Concomitantemente você poderá enxerga nessa perspectiva social-política que as classes subalternas nunca alcançaram seus objetivos puro; podem ter conseguido por um curto período, ou chegam perto de seu objetivo final mas não lhes são concedido a graça da vitória, ou pior ainda: terem sua ideologia, o motivo pelo qual se sentiram capazes de tentar algo novo, algo que se aproxima do justo, algo que lhes lembrem sobre sua condição de reais cidadãos, transvestida para a classe dominante (ou para classe dominante que se formará após sua luta teleologicamente belíssima!), para aqueles que lhes manterão subjugados e alienados aos próprios interesses (mesquinhos, antiprogressista, desumanos).

Isso foi um simples e superficial exemplo do quanto o curso de História pode não ser inspirador. A partir daí pode-se tirar óbvios questionamentos: por que lidar com fatos que brincam com sua condição humana que insiste ter esperança? Por que se focar em lutas que de alguma maneira são sempre subvertidas do desejo inicial? Quando é hora de viver ou deixar morrer? Pra quê expor sua fé e força ha um limite desgastante e que pode vir a ser paralisador? Qual é a finalidade de chegar tão próximo do fogo?

Acredito que dessa breve passagem é possível nortear você, leitor, a pensar duas vezes antes de escolher implicar-se nessa insana paixão.

Bom, uma vez considerando "História" um sujeito que se assemelha a um amigo, não podemos evitar aqui de discorrer algo mais subjetivo. Esse amigo que é capaz de testar sua paciência ha um limite jamais imaginado, de lhe colocar numa situação de extrema ferida no orgulho, de sufocar seu coração em exigências, reclamações, palavras de indescritível ofensa; amigo que projeta (propositalmente ou não) em você um parceiro perfeito que suporte toda a verdade de sua personalidade que aparece gradualmente, num (nem tão) longo processo de convivência... É exatamente o mesmo amigo (defeituoso, desgastante, asfixiante) que lhe apresenta cores do mundo que você jamais havia visto, janelas nunca notadas anteriormente, apresenta-lhe possibilidades se quer algum dia cogitadas, honestidade até então desconhecida fora do eixo familiar, lhe envolve num vínculo de tal forma que com mesmo tamanho sufoco você escolhe perdoar seu amigo de demasiado desgaste mental pelo fato de ver nessa convivência, nessa troca de conhecimentos, nesse emaranhado de cores, vantagens de acreditar no valor de singular amizade!

Uma vez dotado de livre arbítrio, deixo para você o desafio de dissertar sobre “Por que não fazer História” formando uma opinião consistente. Pois eu, Rafaela, escolho crescer com a dor provocada pela esperança que as vezes se inibe junta aos fatos generalizadores e céticos, escolho acreditar nas lutas mesmo que muitas vezes subvertidas, escolho ter fé em alguma coisa; e aproprio-me novamente de outra uma frase do mesmo filósofo Friedrich Nietzsche: aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal. Afinal, tudo sempre será uma questão de perspectiva.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Jumento Celestino


Tava ruim lá na Bahia, profissão de bóia-fria
Trabalhando noite e dia, num era isso que eu queria
Eu vim-me embora pra "Sum Paulo"

Eu vim no lombo dum jumento com pouco conhecimento
Enfrentando chuva e vento e dando uns peido fedorento (vish burro)
Até minha bunda fez um calo

Chegando na capital, uns puta predião legal
As mina pagando um pau, mas meu jumento tava mal
Precisando reformar

Fiz a pintura, importei quatro ferradura
Troquei até dentadura e pra completar a belezura
Eu instalei um Road-Star!

Descendo com o jumento na mó vula
Ultrapassei farol vermelho e dei de frente com uma mula
Saí avuando, parecia um foguete
Só não estourei meu côco pois tava de capacete

Me alevantei, o dono da mula gritando
O povo em volta tudo olhando e ninguém pra me socorrer
Fugi mancando e a multidão se amontoando
Em coro tudo gritando: "Baiano, cê vai morreêeê !"

Depois desse sofrimento, a maior desilusão
Pra aumentar o meu lamento, foi-se embora meu jumento
E me deixou c'as prestação

E hoje eu tô arrependido de ter feito imigração
Volto pra casa fudido, com um monte de apelido
O mais bonito é cabeção!

Mamonas Assassinas

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Olá querido II


Quando lhe vi pela primeira vez apenas pensei: como é possível em uma pessoa só caber tantas cores?

Após o despertar dessa específica curiosidade veio também a vontade de observar toda sua extensão meticulosamente.

Assim como suas cores me chamou a atenção, logo seus dentes perfeitamente alinhados se exibiam mostrando um sorriso imponente, e após ver seu olhar profundo e misterioso me vi cativa em seu universo.

Troquei com você algumas palavras, e que palavras! Tudo que você dizia a mim fazia sentido, vi que tínhamos muito em comum até que... Até que você me mostrou superficialmente suas cicatrizes. E foi aqui que me entreguei a você.

Por algum motivo quis com muita intensidade lhe fazer o bem, lhe ser amiga, lhe ser especial de qualquer forma. Hoje penso que essa foi a maneira de lhe retribuir aquele sorriso que me encantou, aquelas cores que me chamou a atenção, aqueles olhos que me fez submergir em seu mundo.

O tempo passou e permaneci imersa nas possibilidades que crie em você; até que a frustração superou o desejo de lhe fazer bem. Suas atitudes, palavras, olhares estavam imprecisos demais para alimentar tal vontade. O que você me deu no dia em que nos conhecemos era o suficiente para lhe desejar tanta coisa boa, depois que a magia passou meu desejo foi tão efêmero quanto seu encanto.

Com mais um pouquinho de tempo voltei a sentir aquela intensa vontade de estar do seu lado, porém agora me carecia de coragem. Sinto falta de lhe abraçar e perguntar como você vai olhando em seus olhos, não sei por que mas sinto falta de me sentir útil a você.

Então exatamente agora vi que tudo não passou de uma bela construção minha, não há nada de específico em você, seu sorriso não é nem mais ou menos encantador que outros. A questão daquela atenção que lhe dei se chama “momento”.

O momento que decidi ver aquilo em alguém, sentir aquilo por alguém, fazer algo por alguém.

Infelizmente fui limitada demais para manter o equilíbrio diante das decepções, tentar fazer algo que podia ser útil, quase “altruísta”. Mas não dei conta.

Ás vezes queria voltar ao começo, ser mais direta e dizer o tão adorável você é. Mudar as atitudes só pra ver se no final seria isso mesmo. Mas ao mesmo tempo vejo que isso tudo realmente foi uma idealização teleológica, até mesmo a sua simpática, tudo esta mais no meu imaginário do que de fato é. Ninguém é tão extraordinário assim.

É comum considerar uma pessoa especial, é estranho fazê-la especial e ter plena consciência disso. Da a impressão que todas as nossas atitudes que por um instante pensamos ser de total liberdade na verdade são todas dominadas pelo nosso egoísmo de sempre querermos o nosso próprio bem.

Peço aqui formalmente meu perdão. Prometo a mim, e as futuras pessoas que me cativarão, aprender a amá-las mesmo desacreditando no altruísmo, amá-las simplesmente.

Eu realmente lamento muito ter falhado com você, mesmo você tendo noção disso ou não.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mil faces

 Pedro voltava de mais um dia de serviço, “daquela rotina exaustiva e alienada” como ele mesmo pensara e sorria ao se lembrar de Karl Marx.
 Enquanto embarcava no ônibus que o levaria para casa, olhou para a empresa que trabalha de uma maneira menos comum. Observou a grandeza da indústria, a chegada dos trabalhadores que virariam a noite ali produzindo para seus chefes que dormiam aconchegadamente em suas comodidades na parte nobre da cidade.
 E ao sentar-se próximo a janela viu seu reflexo nela.
 Um homem das sobrancelhas grossas, dos olhos castanhos escuros, da pele parda, do cabelo indeciso: não sabe se é liso ou enrolado, não sabe se é branco ou castanho. Riu para si mesmo depois desta observação. E após rir se deparou com uma lacuna que o levava a sua alma.
 Ao observá-la percebeu que a figura do reflexo do espelho daria um ótimo empresário se fizesse a barba e colocasse um terno, mas também daria um ótimo “James Bond” com uma BMW e uma loira sexy ao lado... Viu mil possíveis nele através de sua alma.
 Subitamente fechou os olhos e permitiu-se concentrar e sentir apenas na brisa que o tocara, ouviu de sua alma que suas mil possíveis faces não o tornaria menos ou mais humano uma que a outra. E assim Pedro, tocou na sua barba, fixou-se em olhar apenas para a cor dos seus olhos, e logo a sentir a textura do seu cabelo para enfim decretá-lo liso ou enrolado, e foi ai que...
 E foi aqui que entendeu o que sua alma lhe disse ao combinar precisamente a retina com o córtex: sou igual a todos, sou tão humano quanto a todos, tenho as mesmas possibilidades, vontades, necessidades e carências. E sou muito especial por ser assim: possível, ameno, rude, acomodado, imperfeito!
 Pedro então esboçou outro sorriso, lembrou de quando lera “Manifesto Comunista” e sentiu no coração todo o ardor por mudança e igualdade que Marx expressara naquele livro. Olhou para o teto do ônibus e agradeceu pelo livre arbítrio, que o possibilitou acreditar no amor que na revolução. Possibilitou enxergar que há uma tênue divisão entre o burguês e o ploretariado que pouco importa, nenhuma ordem econômica importa, quem trabalha a noite, quem dorme na parte nobre da cidade, quem luta por igualdade ou aquele que luta pelo poder...
 Ele enfim, em plena execução do livre arbítrio optou concentrar toda sua fé no amor, o que devira dele ou da falta dele. Viu no seu reflexo, na sua imperfeição, mil faces. E dali nivelou toda a humanidade a uma igualdade só: a igualdade de escolher o foco que deseja ter, a força que desejar medir, a fé que escolher crer. E decide ficar apenas com o amor que essa liberdade proporcionar a qualquer que seja a condição da humanidade.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Isso também passa!

"Chico Xavier costumava ter em cima de sua cama uma placa escrita: ISSO TAMBÉM PASSA! Então perguntaram a ele o porquê disso... Ele disse que era para que quando estivesse passando por momentos ruins, se lembrar de que eles iriam embora, que iriam passar, e que ele estava vivendo isso por algum motivo.

Mas essa placa também era para lembrá-lo de que quando estivesse muito feliz, não deveria deixar tudo para trás e se deixar levar, porque esses momentos também iriam passar e momentos difíceis viriam novamente. É exatamente disso que a vidaé feita, momentos. Momentos que TEMOS que passar, sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado. Nunca esquecendo do mais importante: NADA NESSA VIDA É POR ACASO. Absolutamente nada. Por isso temos que nos preocupar em fazer a nossa parte, da melhor forma possível... A vida nem sempre segue o nosso querer, mas ela é perfeita naquilo que tem que ser!"

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O que sempre ha

Sempre ha o que não superar
O que não aguentar
Não entender

Sempre ha o que não acreditar
O que não descartar
Não re-viver

Sempre ha a limitação alheia
Aquela que nada podemos mudar, mover, fazer
Que nos faz sofrer

Mas afinal o que ha?

Sempre haverá lembranças
Boas e ruins
Você olhando ironicamente para mim.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Remar. Re-amar. Amar.

"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.Re-amar.Amar."

Caio Fernando de Abreu

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Uma forma de amar

Bom, e se alguém me perguntar: o que é amor pra você? Responderia assim...

amor é quando você é capaz de ser amigo de uma pessoa mesmo sabendo de todas as barbáries que ela é/foi capaz de dizer sobre você,

amor é você aceitar em silêncio tal desventura em respeito a um sentimento maior que essas críticas infundamentáveis,

amor é perder a amizade de um para manter a outra, e esperar o tempo lhe proporcionar o momento em que recuperará aquela que teve que deixar...

amor é ter completa consciência do defeito do amigo, e mesmo que este defeito lhe custe árduas feridas ainda assim consegui abraça-lo e honestamente chama-lo de amigo,

amor é sobrepor bons momentos e velhos sentimentos à exímias ofensas,

amor é tirar da sua dor uma oportunidade de respeitar e perdoa a limitação do próximo,

é chorar, sangrar, se questionar, revoltar sem pronunciar um ruído se quer;

é esquecer o orgulho, as feridas, as perdas, as mentiras em nome de um sentimento.


Em suma, hoje uma forma de ver o amor e amar para mim é silenciar por livre e espontânea vontade, afim de perpetuar e corroborar os laços de amizade. Nem sempre abrindo seu coração, nem sempre sendo honesto, mas sempre, irrevogavelmente, fiel.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Espelho de Próspero

" Próspero Morse se olha no espelho da América Ibérica, e pouco a pouco a imagem refletida vai entrando em foco. Por trás da nuvem espessa de estados nacionais frustrados, etnias e sociedades desgarradas, caudilhos grotescos e trágicos, insurreições que terminam em sangue e desespero, projetos abortados de modernização e industrialização, parece ser possível vislumbrar uma realidade mais sólida, uma verdade mais profunda, e, ao mesmo tempo, a razão do equívoco do espelho: a América Ibérica está desfocada porque ela se contempla no espelho da próspera América inglesa e, na busca inútil da imitação do outro, perde sua própria essência. Os latinos não percebem que o liberalismo, a democracia representativa, o racionalismo, o empirismo científico, o pragmatismo, todos estes ideais alardeados pelos ricos irmãos do Norte não só são incompatíveis com a realidade mais profunda da América Ibérica, como também marcam a decadência e a falta de sentido da própria sociedade capitalista e burguesa que os criou.

Se os latinos olhassem melhor, no entanto, talvez vissem que existe um outra imagem do mundo próspero, a imagem daqueles que, como Morse, se desesperam e conseguem até zombar das aflições e mesquinharias de seus compatriotas, de sua obsessão com as coisas miúdas e materiais, e transcender sua falta de sentido histórico, seu desprezo pelas questões de espírito e sua aridez. Eles talvez se espantassem ao perceber que este outro próspero encontra sua redenção na contemplação do mundo latino, ou mais precisamente, na busca quase heróica de sua essência perdida. É na tradição ibérica, nos diz Morse, pela sua fidelidade à busca de uma visão abrangente e unificadora do mundo, pela crença profunda, mesmo que inconsciente, em uma realidade social que transcende o indivíduo e é mais que o somatório dos interesses individuais e suas servidões, que se poderia encontrar uma resposta adequada à crise moral e existencial do mundo anglo-saxão, e, por reflexo, da América Latina. Não haveria, no entanto, razões para espanto, porque disto se trata, afinal, no jogo de espelhos: de buscar constituir a própria imagem na contemplação do outro, e dar ao outro, ao mesmo tempo, a ilusão de que, porque ele se percebe no primeiro, ele também existe."

Simon Schwartzman sobre:

"O Espelho de Próspero" Richard M. Morse (1988)

sábado, 11 de junho de 2011

O por-do-sol anunciou

É, acabou
A fonte esgotou
O tempo fechou
O por-do-sol anunciou

Procuro por aquelas rimas
Que um dia via a cada esquina
E que por atrás das sombras delas
Encontrava as coisas mais belas

Procuro por aquela magia
De um coração pouco batido
Sem desgosto, sem medo
Sem dor ou desrespeito

Procuro por coisas, situações, sentimentos
Que convenhamos, não faz a menor falta
A beleza da vida é viver cada fase
Deixa-la passar, ficando a saudade

Recordações, emoções, memória
Sorrindo e lembrando da singelas história
Com a maturidade adquirida
Através da discência tão requerida

Esquecendo
Toda a mágoa que aprendi a esconder tão bem
Disseminando
Todo amor que vi que pode ser útil a alguém

É, começou
A fonte transbordou
A primavera chegou
O por-do-sol anunciou

terça-feira, 10 de maio de 2011

Clichê

Quem nunca precisou de se respeitar?
A dificuldade esta mais na cobrança que no problema,
Mais no desejo que na necessidade
Mais no "por que" do que no "para que".

Força e delicadeza
Utopia e ceticismo
Tradicionalismo e dialética
Você superando, e entendendo, você.

Talvez um pouco de drama,
Talvez um pouco de inconformismo
Ou alguns dias cinzas,
Te deem o que você precisa.

O dia inteiro não seria exagero
O "ser" do "ser humano" comete erros
E precisa deles para recriar
E se movimentar

Então me responda: quem nunca precisou de se respeitar?
Entender as coisas que fazem parte do "ser" do "ser humano"
Inclui ser limitado
Simplesmente não conseguimos ser, estar, fazer alguma coisa.

domingo, 17 de abril de 2011

Apesar de você...

ter feito a diferença algum dia da minha vida, eu prossegui.
Conheci pessoas, lugares, tive outras experiências sabe?
Me diverti, decepcionei, me encantei.
Amadureci, aprendi, reconstitui.

Apesar de você ter sido tão singular eu vi, e vivi, o outro dia.
Vivi como qualquer pessoa normal, com problemas e risadas.
Vi a beleza, a tristeza, a dúvida e a certeza.

Nem sempre senti sua falta, nem sempre te respeitei, nem sempre acreditei ou confiei.
Mas sempre questionei (e questiono!) tudo que ouvi, e pensei...

Apesar dos pesares e das delícias, eu tentei prosseguir.
Conheci pessoas, lugares, tive outras experiências sabe?
Mas, volta e meia você volta. De alguma maneira, por algum motivo e meio, sempre volta.

Volta como se nunca tivesse ido, volta como se estivesse apenas temporariamente inibido.
Não volta, mas apenas acorda.
Me acorda pra aquela realidade que me lembra que mesmo amanhã sendo outro dia, ainda tem você. Ainda penso em você. E ainda... duvido de você.

E mesmo depois de tanto questionar, duvidar, desejar e rezar... a resposta nenhuma consigo chegar. Acho que por insegurança. Ou por falta de confiar.

Acho também seja por misturar o ato de pensar com o de sentir, a nenhum caminho consigo prosseguir.

Apesar de você... Amanhã hei de apreciar, e compreender, tudo com autonomia e neutralidade. E um dia uma resposta concluir, e nela crer; crer na conclusão que cheguei sobre você.

Mesmo com as incertezas, a tendenciosidade, amanhã há de ser outro dia. O dia que você volta como se estivesse apenas inibido e me acorda. Ou não.

domingo, 10 de abril de 2011

O vazio do coração


Ela sente falta.
Da presença, do carinho, do olhar.
Mas sempre supera, lida com a vida que não a espera.

Segue seu caminho, seus estudos,
feliz com sua família.
Mas ela sempre vai sentir falta.

Falta daquele olhar que só vem de um lugar,
mesmo que ela receba vários outros tão importantes quanto.
A ausência da comparência sempre deixa a desejar.

Falta do sorriso, do ombro amigo,
que as palavras no telefone não as suprem,
nem as promessas que se distanciam da verdade.

Onde esta você, além de aqui dentro de mim?
Neste lugar que não sei onde fica, só sei que está incompleto
Esperando pelo seu afeto.

Ao Fim De Tudo


Minhas lágrimas não caem mais,
Eu já me transformei em pó
E os meus gritos não se escutam mais
Estão na direção do Sol
Meu futuro não me assusta ou faz
Correr pra desprender o nó
Que me amarra a garganta e traz
O vazio de viver só...

Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo
Naquela canção,
que parece encontrar a razão
Mas que ao final se cala frente ao tempo que não para frente a nossa lucidez ♪

Duca Leindecker

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Jéssica


Existem várias delas
Com defeitos e qualidades em variedades
Mas
uma em especial
Tenho
com ela uma amizade surreal

Com ela que aos 13 fugíamos de casa juntas
E que constantemente (e comicamente) sonhava
Que nossos pais nos capturava
Das nossas infantis aventuras

Aquela a qual uma lia o diário da outra
De onde, sem querer, confirmávamos
Mais do que confiança mútua
Nossa irmandade presa laços

Ela que inexplicavelmente como
Me apresentava as mais lindas odisséias
Pelo simples ato de recordar
Ou de juntas sair, beber, dançar e brigar!

Ela que divido tudo
Roupas, bijuterias, dúvidas e descobertas
E faz com que aqueles sentimentos mais clichês
Não sejam para mim meramente démodé

A você minha queria amiga
Um mundo de fantasias submergidos na realidade do dia a dia
Para que sempre, SEMPRE seja abençoada e feliz
E conte comigo como sua força motriz.

Ps.: I'm here with you, all the time s2

sábado, 2 de abril de 2011

Pior que um é nenhum



 Deixe-me desculpar pra começar. Deixe-me desculpar pelo o que estou preste a dizer, penso que sinto algo por você.
 Isso é estanho, como pensar em sentir?
 Simples, o problema todo esta em admitir. Isso é tão clichê... Os povos mesopotâmicos, egípcios, da terra média, dos anos 30, nossos contemporâneos... Todos temos uma grande dificuldade de lidar com o orgulho, com o medo, com a rejeição.
  Se acreditamos na vida eterna, se acreditamos que só estaremos aqui na Terra uma única vez, se temos certeza da morte... Por que limitar nossos sentimentos apenas ao nosso coração? Por que não espalhar nossas ideias, nossos afetos, nossos sentimentos? Por que nos sentirmos vítimas com corriqueiros fatos da vida?
 Deixe-me desculpar pelos meus 'e se?', probabilidades e/ou possibilidades nunca fez alguém chegar a algum lugar.
 Deixe-me desculpar por ficar 'entre', entre minha dúvida e minha fé, entre mentira e a verdade, coragem e medo, entre a superficialidade e a entrega.
 Um dia eu fui minha própria segurança, só eu me bastava, mas hoje, hoje tudo mudou. Tudo mudou quando decidir enxergar o mundo tal como eu entendia, e não como outros me sugeriram uma compreensão. Tudo mudou quando percebi que agora eu tenho que me virar, que meus sentimentos são comuns e não devo sentir necessidade de pedir ajuda por algo que todos passamos, e que de alguma forma temos dificuldades semelhante.
 Tudo mudou quando percebi que começar pode ser tão simples, que dizer adeus nem sempre é o melhor caminho, que a rejeição nem sempre representa um 'não' definitivo.
 Tudo mudou quando percebi que pior que um é nenhum. Pior que ter uma chance é não pensar nem por nenhum segundo em aproveita-la, pior que não amar uma pessoa é não escolher nenhum indivíduo para compartilhar tal dádiva, pior que não ter um sentimento positivo e não desenvolver nenhum dentro de si.
 Pior que não acreditar que temos uma única qualidade, é nunca termos vistos as inúmeras que nós mesmos possuímos, e as outras que todo mundo também. Qualidades que nos completa, ensina, amedronta ou encoraja. Que nos faz sentir vivos ao nos fazer sentir como se realmente tentássemos, aproveitássemos, do tempo e das oportunidades que sabemos que temos e que vivemos no presente.
 Deixe-me desculpar por pensar de mais, e sentir de menos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Dia pós dia

Acorda e pensa: chegou a hora.
Levanta, sentindo-se ainda na cama
Café, queijo, biscoito
Saia, salto e elegância.

Agora que as Américas foram exploradas
Que a nação foi construída
Nascida de uma ideologia
Que hoje compõe nosso dia a dia

Que sentido faz a saia o salto e a elegância?
Que sentido faz o Heliocêntrismo imerso no antagonismo?
Que sentido faz queimar o sutiã, comprando o eletrodoméstico do amanhã?
Que sentido faz... Que sentindo faz?

O sentido faz, faz acontecer
Pela fé que temos no amanhecer
O sentido faz, faz a gente se mover
Por aquilo que não entendemos, apenas cremos...

Cremos na saia, no salta e na elegância
Por simbolizar a quebra de paradigmas
De que qualquer petulância
Que um dia só era esperança, hoje se transformou numa realidade em abundância.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Príncipe Encantado



Eu quero esperar por um príncipe encantado, no seu branco cavalo
Eu quero esperar pela hora certa, naquela manhã épica
Eu quero acreditar no impossível, no inteligível

Quero exigir o máximo
O máximo do amor, carinho e amizade
Máximo de respeito e lealdade

Eu espero, questiono e quero
Tudo aquilo que ninguém acredita
Pelo simples fato de me achar probo e capaz
De me mostrar como princesa, para alguém que realmente mereça.

segunda-feira, 21 de março de 2011

As pessoas querem acreditar...

 Por mais céticas que nossas palavras possam soar, no íntimo temos a simples carência em querer acreditar e em poder confiar.
 Queremos acreditar que é possível resolver problemas éticos entre os africanos, judeus, cristãos e mulçumanos.
 Acreditar na capacidade de ser honrado e honesto; e que a ganância que gira em torno do capital, do bem material, não supera o ato de ser sincero.
 Cada pessoa quer confiar no respeito; algumas querem respeito a Eucaristia, a um homem que nasceu da Virgem Maria; já outros anseiam que respeite a Vaca, a Barata, e a um homem que nasceu de uma flor.
 As pessoas almejam crer no amor verdadeiro, em “Romeu e Julieta", no pingüim que encontra, e se encanta, por sua única parceira; um amor recíproco, justo e eterno, recheado de momentos épicos...
 O problema do nosso “querer” é que geralmente vem agregado a mais outros dois verbos, “esperar” e “agir”. E se colocados de modo imperfeito, imobiliza qualquer sujeito.
“Nós queremos acreditar no amor sincero, no respeito étnico, na honestidade das palavras, na corroboração de cada religião. Mas esperamos, por orgulho ou por medo, que o outro aja de tal forma comigo primeiro.”
 Desejar definitivamente não é tão fácil quanto parece. Existem barreiras para deixar a busca mais excitante, ou distante...
 Talvez fosse mais conveniente buscarmos aquilo que precisamos do que aquilo que queremos. Seria mesmo melhor, se o que precisamos não fugisse a nossa limitada compreensão.
 O que nos resta, ou pode nos restar, é colocar os mesmos três verbos citados de forma diferente de nossos anseios: “Queremos sim a mudança,a exaltação dos bons sentimentos. Mas (incrível como esse artigo aparece nas relações humanas!) devemos esperar o tempo do outro, não é porque estou pronta que o resto do mundo também deve estar, contextualizar é sempre a opção mais prudente; para enfim agir, por aquilo que acreditamos tanto que de desejo se eleva a fé.”
 Saber o que queremos, a hora de esperar e a de agir, do que precisamos... São conhecimentos que, para aqueles que o domina, realmente tem em mãos a maior dádiva da vida.
 A nós, simples humanos que buscam conciliar o que queremos ao que precisamos, nos resta mover pela fé, aquele sentimento peculiar e quase instintivo que entra em constante atrito com nosso racionalidade, mas que de alguma forma, por algum motivo, atende as nossas mais intrínsecas necessidades.

domingo, 13 de março de 2011

Finalização




Eu decidi esquecer...
cada gesto significativo ou nem tanto.
Decidi isso pelo simples fato de não confiar,
ou estar exausta de tentar.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um olhar transparente, e sem gelo por favor!

Você já olhou para as pessoas? Mas olhar mesmo, de modo que não seja para analisar seu comportamento no meio social (o que pra mim são apenas julgamentos superficiais) e sim observando as atitudes respeitando sua subjetividade.

Como por exemplo, um grande amigo seu divulga uma conversa íntima distorcendo a realidade e depois não assume o tê-lo feito. A principio qualquer pessoa com sangue nas veias no mínimo daria uma lição de moral no amigo e se afastaria, mas isso é para aqueles que olham para as pessoas perfunctoriamente.

Se você fosse amigo mesmo, teria entendido a fragilidade dele ao se lembrar de todas as dificuldades pessoais que este amigo passou com a família, quando compartilhou com você as discursões, diálogos e tristezas. Saberia que essa distorção foi uma conseqüência de uma convivência conturbada com a própria mãe, cheia de ambigüidade e jogo de interesse. E assim você, na qualidade de amigo, entenderia a infeliz interpretação das suas palavras por uma pessoa a qual tem infinito carinho e conhecimento pessoal.

Eu não digo aqui para ser indiferente a traições e decepções, mas apenas para prestar atenção que tanto a "vítima" quanto o "réu" são humanos da mesma forma, propícios a errar, desentender, questionar e etc como qualquer outra pessoa. Se nos deixarmos ser tomados pelo sentimento de vitimização estaremos sento egoístas ao ponto de ignorar toda a convivência com célebre amizade, e assim cego de nós mesmos.

Levando em consideração esse exemplo fica mais fácil OLHAR para alguém próximo e especial, mas por que não olhar assim para George Walker Bush? Afinal, o que ele tem de humano diferente de nós? Se sabemos um pouco sobre a história dele, é fácil ver que provavelmente não teve uma boa convivência com o pai George Herbert Walker Bush, ou pelo menos bom exemplo. E por que não olhar assim para um estuprador? Certas barbáries só são possíveis de ser efetivada por um coração machucado, que só conheceu o abuso e a maldade, e que nunca chegou perto de ter um LAR composto por uma FAMÍLIA como devemos saudavelmente ter.

Então, o que faz pensar que essas análises comportamental são uma maneira de visão e expressão da subjetividade alheia? Sendo que cada um dos 6 bilhões de habitantes deste planeta são reflexos de suas escolhas pessoais, do ambiente que foram inseridos, das instituições que participaram e até mesmo do próprio DNA.

Que argumento concreto tem o julgamento? Que direito temos de julgar sendo que somos tão subjetivos quanto?

De fato, não é fácil OLHAR para ninguém, nem para nós mesmos; mas é fato também que toda essa tática de dedução é totalmente ultrapassada e insustentável.

Mas a questão se resolve no saber respeitar, saber domar o nosso ego e acima de tudo, compreender o tempo. Já dizia Ana Carolina "o tempo faz tudo valer a pena e nem o erro é desperdício, tudo cresce", e ao permitimos esperar o tempo passar veremos o bom resultado de mesmo depois de tanta mágoa, tanta decepção, ainda assim vale a pena respeitar (ou se possível perdoar) pois não há condição humana superior ou inferior, o que existe mesmo são limitações, fragilidades distintas.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quadro privado


Até que ponto escolhemos entre amar ou não?
Até que ponto nos submetemos a solidão?
Não sei o que sei, mal sei o que sinto
Mas me atrevo a dizer, esse amor limitado me faz sofrer.

As vezes culpo o egoísmo que me impede de arriscar
Depois penso no medo que me prende no particular
Logo a raiva me consome por ser tão insegura
E num ultimo suspiro falo baixinho: mas que complexa desventura!

Depois de tantas rasuras na vida me tornei introspectiva
Não piso fora da linha, ando sempre sobre medida
Não grito, não chingo, não brigo, não engano e nem decepciono
Mas também não sei se sinto, ou se vivo.