sexta-feira, 24 de junho de 2011

Uma forma de amar

Bom, e se alguém me perguntar: o que é amor pra você? Responderia assim...

amor é quando você é capaz de ser amigo de uma pessoa mesmo sabendo de todas as barbáries que ela é/foi capaz de dizer sobre você,

amor é você aceitar em silêncio tal desventura em respeito a um sentimento maior que essas críticas infundamentáveis,

amor é perder a amizade de um para manter a outra, e esperar o tempo lhe proporcionar o momento em que recuperará aquela que teve que deixar...

amor é ter completa consciência do defeito do amigo, e mesmo que este defeito lhe custe árduas feridas ainda assim consegui abraça-lo e honestamente chama-lo de amigo,

amor é sobrepor bons momentos e velhos sentimentos à exímias ofensas,

amor é tirar da sua dor uma oportunidade de respeitar e perdoa a limitação do próximo,

é chorar, sangrar, se questionar, revoltar sem pronunciar um ruído se quer;

é esquecer o orgulho, as feridas, as perdas, as mentiras em nome de um sentimento.


Em suma, hoje uma forma de ver o amor e amar para mim é silenciar por livre e espontânea vontade, afim de perpetuar e corroborar os laços de amizade. Nem sempre abrindo seu coração, nem sempre sendo honesto, mas sempre, irrevogavelmente, fiel.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Espelho de Próspero

" Próspero Morse se olha no espelho da América Ibérica, e pouco a pouco a imagem refletida vai entrando em foco. Por trás da nuvem espessa de estados nacionais frustrados, etnias e sociedades desgarradas, caudilhos grotescos e trágicos, insurreições que terminam em sangue e desespero, projetos abortados de modernização e industrialização, parece ser possível vislumbrar uma realidade mais sólida, uma verdade mais profunda, e, ao mesmo tempo, a razão do equívoco do espelho: a América Ibérica está desfocada porque ela se contempla no espelho da próspera América inglesa e, na busca inútil da imitação do outro, perde sua própria essência. Os latinos não percebem que o liberalismo, a democracia representativa, o racionalismo, o empirismo científico, o pragmatismo, todos estes ideais alardeados pelos ricos irmãos do Norte não só são incompatíveis com a realidade mais profunda da América Ibérica, como também marcam a decadência e a falta de sentido da própria sociedade capitalista e burguesa que os criou.

Se os latinos olhassem melhor, no entanto, talvez vissem que existe um outra imagem do mundo próspero, a imagem daqueles que, como Morse, se desesperam e conseguem até zombar das aflições e mesquinharias de seus compatriotas, de sua obsessão com as coisas miúdas e materiais, e transcender sua falta de sentido histórico, seu desprezo pelas questões de espírito e sua aridez. Eles talvez se espantassem ao perceber que este outro próspero encontra sua redenção na contemplação do mundo latino, ou mais precisamente, na busca quase heróica de sua essência perdida. É na tradição ibérica, nos diz Morse, pela sua fidelidade à busca de uma visão abrangente e unificadora do mundo, pela crença profunda, mesmo que inconsciente, em uma realidade social que transcende o indivíduo e é mais que o somatório dos interesses individuais e suas servidões, que se poderia encontrar uma resposta adequada à crise moral e existencial do mundo anglo-saxão, e, por reflexo, da América Latina. Não haveria, no entanto, razões para espanto, porque disto se trata, afinal, no jogo de espelhos: de buscar constituir a própria imagem na contemplação do outro, e dar ao outro, ao mesmo tempo, a ilusão de que, porque ele se percebe no primeiro, ele também existe."

Simon Schwartzman sobre:

"O Espelho de Próspero" Richard M. Morse (1988)

sábado, 11 de junho de 2011

O por-do-sol anunciou

É, acabou
A fonte esgotou
O tempo fechou
O por-do-sol anunciou

Procuro por aquelas rimas
Que um dia via a cada esquina
E que por atrás das sombras delas
Encontrava as coisas mais belas

Procuro por aquela magia
De um coração pouco batido
Sem desgosto, sem medo
Sem dor ou desrespeito

Procuro por coisas, situações, sentimentos
Que convenhamos, não faz a menor falta
A beleza da vida é viver cada fase
Deixa-la passar, ficando a saudade

Recordações, emoções, memória
Sorrindo e lembrando da singelas história
Com a maturidade adquirida
Através da discência tão requerida

Esquecendo
Toda a mágoa que aprendi a esconder tão bem
Disseminando
Todo amor que vi que pode ser útil a alguém

É, começou
A fonte transbordou
A primavera chegou
O por-do-sol anunciou